sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A FAZENDA CACHOEIRA GRANDE GARANTE UMA VISITA AGRADÁVEL AO TEMPO DO IMPÉRIO, À ARISTOCRACIA RURAL A UM PASSADO MARCADO POR MOMENTOS DE ESPLENDOR E DECADÊNCIA. ATÉ SER ADQUIRIDA POR UM CASAL QUE SE APAIXONOU POR ESSE BELÍSSIMO LUGAR HISTÓRICO E O TRANSFORMOU NUM POLO TURÍSTICO QUE APESAR DE NÃO CONTAR COM AJUDA DO PODER PÚBLICO OFERECE UMA VISITA AO BRASIL COLÔNIA.

Texto e fotos: Arnaldo Moreira

Entrada principal da Fazenda.
Entre vales, montanhas e cachoeiras resvalando por encostas verdejantes, íngremes, paisagens exuberantes, encantadoras cobertas do que ainda existe de Mata Atlântica, o viajante chega até uma relíquia histórica e arquitetônica, no município de Vassouras, cercada de natureza, a Fazenda Cachoeira Grande. 


Coloniais janelas de guilhotina dão à Fazenda uma beleza arquitetônica ímpar.
Apesar de ser um significativo e importante polo turístico histórico e arquitetônico no Estado do Rio de Janeiro, a cinco quilômetros de Vassouras, a Fazenda não recebe qualquer ajuda do poder público.

Cachoeira Grande é administrada pelo casal Núbia Caffarelli, viúva do último dono, o industrial italiano Francesco Vergara Caffarelli, hoje casada com o engenheiro Jorge Altino Joppertresponsável pela restauração do casarão, pintado de rosa com detalhes vinho e branco.


As dificuldades de gestão da Fazenda impedem, por exemplo, que detalhes como as cúpulas da luminária sejam substituídas quando quebram.

Quarto mobiliado ao estilo colonial.
Fundada em 1820, por Francisco José Teixeira Leite Barão de Vassouras a fazenda tinha 1.000 alqueires mineiros, equivalente a 48.400.000 m2, e nela foi construída uma casa de 1.200 m2, com 65 janelas, 18 quartos, sem um único banheiro, salões de jantar e de estar, tudo para o Barão receber o príncipe D. João. 


Salão onde foi servido o nobre jantar.

A nobre e tão desejada visita, no entanto, só aconteceu, em 1884, mais de meio século depois.


O cardápio do jantar, exposto na Fazenda, oferecido à Princesa, em francês, tinha um punch (ponche) em homenagem ao Conde D'Eu.
A Princesa Isabel e o Conde DEu de passagem por Vassouras -  foram recepcionados com um elegante e lauto jantar oferecido pela filha do barão - que morrera em maio daquele ano - com a presença de ilustres convidados, entre eles o Barão de Santa Mônica e o Visconde de Ibituruna.

Um dos morros da Fazenda onde estavam plantados
pés de café hoje é uma mata cerrada, mostrando como era a
Mata Atlântica antes de devastada em nome do progresso.

Depois de ser uma das grandes e mais promissoras fazendas de café da então Província fluminense chegando a ter plantados 250 mil pés, a Fazenda passou por diversas fases em seus 157 anos, de esplendor e também de decadência.

Abandonada pelos herdeiros do Barão de Vassouras, endividados, a Fazenda foi tomada pelo Banco do Brasil, como aconteceu com muitas outras após a abolição da escravatura.



Em 1920, o imóvel de tantos alqueires e história, passou por outras mãos até que, em 1940, o italiano Mario Mondolfo que se refugiou no Brasil, durante a II Guerra Mundial, comprou a propriedade.

Cachoeira voltou, então, a florescer, primeiro com a produção agrícola e depois com pecuária leiteira, mas anos depois Mondolfo mudou-se para o Rio de Janeiro e a Fazenda foi de novo abandonada.



Núbia contou que, em 1967, Mondolfo vendeu parte da Fazenda a Gerson Tambasco, importante comerciante de Vassouras, que viu no local, por sua relativa proximidade com o Rio de Janeiro e São Paulo, transformá-lo num polo de jogo, apostando na revogação da lei que proíbe o jogo no Brasil - promulgada abril de 1946.



"O objetivo era transformar Cachoeira Grande num belo cassino, dada a sua proximidade , porém, a proibição foi mantida e a Fazenda ficou novamente abandonada, dessa vez por 20 anos", lamentou.



Um dia de 1987, porém, o destino voltou a sorrir para a Cachoeira Grande. O empresário, também italiano Francesco Vergara Caffarelli, passando um fim de semana na fazenda de um amigo, com a sua mulher Núbia, nos arredores de Vassouras, soube que a propriedade estava à venda e ao visitá-la o casal apaixonou-se pelo belíssimo local.



A casa-sede, em formato de T, plantada sobre uma plataforma de onde se descortina toda a fazenda, o que permitia ao barão controlar o trabalho dos escravos no manejo do café e as demais atividades da Fazenda, apesar do estado precário, mostrava a beleza da imponente arquitetura colonial rural.


Do alto da plataforma o barão controlava as atividades dos escravos e da fazenda.

Francesco Vergara Caffarelli e Núbia naquele momento decidiram que iriam devolver a dignidade histórica e arquitetônica ao velho casarão e contrataram o arquiteto Eloy de Mello, especialista em arquitetura colonial, responsável por diversos projetos pelo Brasil, e as obras ficaram a cargo do engenheiro Jorge Altino Joppert.



A profunda reforma do prédio durou quatro anos. Nas palavras de Núbia, uma obra em que eu e meu marido, hoje falecido, dedicamos nossas vidas com paixão e respeito à história e principalmente porque Caffarelli amava a propriedade e ali se sentia no paraíso e para cá trouxe boa parte de sua coleção de automóveis antigos, que também pode ser vista.


Ao lado de Jorge, Núbia conta que naquela época, além das obras físicas, ela teve a desafiadora missão de encontrar o mobiliário e as peças de decoração do período colonial, o que conseguiu percorrendo várias dezenas de antiquários e participando de leilões com uma persistência que durou os quatro anos da restauração.



Durante a viagem, primeiro pela Rodovia Presidente Dutra (BR-101) depois pela RJ-127, a bordo de um moderno e confortável automóvel com motor de 140 cavalos, podemos imaginar o tempo que se levava para cobrir os 115 km, entre o Rio de Janeiro e a Fazenda, no lombo de um cavalo ou sacolejando numa carruagem puxada apenas por dois cavalos, o que foi minimizado com a entrada em operação da ferrovia ligando a capital do Império a Vassouras, em 1857.



Não é apenas a viagem até Vassouras que atrai a atenção do viajante, o trecho até a Cachoeira Grande é decorado por uma vegetação variada, multicolorida, de plantas que adornam as margens da estrada e ao chegar à porteira da Fazenda, a estrada é calçada de pedras envolvidas por grama verdejante.


Um lago formado pelas águas da cachoeira torna a Fazenda mais bela e encantadora.

O chilrear de pássaros onde sobressai o canto dos sabiás e o alto e esganiçado, quase grasnar, das maritacas, dividem sua atenção com o amplo leque ambiental que marca o habitat da região. Logo na entrada, no alto, do lado esquerdo, a casa onde mora o casal de empregados. 


A grande cachoeira que deu o nome à Fazenda.

Plantas de ambos os lados na estrada alegram a chegada ao casarão, construção que surge lá no alto como uma aura rosa contrastando com o céu azul sarapintado de nuvens brancas.



A recepção é feita pelo casal Jorge e Núbia. O primeiro contato com o casarão é no hall de entrada quando se abre a vistosa porta principal, de 3,50m de altura, da Cachoeira Grande.



Da sala de entrada podem ver-se os vários ambientes, que incluem a capela da fazenda, onde Núbia agradece a presença dos visitantes tocando em um antigo harmônio de fole "Em Algum Lugar do Passado".


"Esse momento é mágico a ponto de algumas senhoras se emocionarem com lágrimas nos olhos", revela.

Na visita percorre-se todo o casarão onde se pode apreciar todos os objetos que compõem a linda decoração.



No último salão existe outro um piano de cauda, em que Núbia se distrai tocando obras clássicas e da MPB. "Antes, aqui, era a cozinha da Fazenda e pela configuração da casa, daqui, se vislumbram todas as dependências, enfileiradas, dando a impressão de se tratar de uma visão espelhada, como se multiplicassem as imagens", alerta Núbia. 


Os móveis da cozinha, que mudou de lugar, foram os únicos que sobraram do abandono Fazenda.

A história da Fazenda e os detalhes da restauração são fluentemente relatados pelo casal e culmina com uma visita ao casarão e às casas adjacentes, entre elas, uma vagão de trem e o museu do automóvel que abriga ainda algumas das relíquias-paixão de Cafarelli.


Entrevista 
Assista o vídeo em que Núbia Cafarrelli fala como conheceu a Fazenda Cachoeira Grande e de sua história:
http://www.youtube.com/watch?v=IbfcS22ghns&list=PL22ABA92C85F20B83&feature=share&index=9


Como chegar 
Saindo do Rio de Janeiro, o visitante deve seguir pela Rodovia Presidente Dutra no sentido São Paulo, entrando à direita, logo após o pedágio, na saída 212 que dá acesso a Paracambi, Mendes Vassouras.

Passando por Paracambi, deve subir a serra em direção a Mendes (RJ127). Assim que atravessar a cidade de Mendes, seguir na estrada Mendes-Vassouras, passando pela ponte do Rocha, indo até o quilômetro 43, onde encontrará uma placa indicando a entrada para a fazenda a direita. 

É uma subida asfaltada com aproximadamente 1 km que se transforma em uma estrada de paralelepípedo que leva até à sede da Fazenda.

Pelo GPS a referência é (RJ127):
Lat. 22*25'52,69" S
Long. 43*41'56,64" O.



Visitas guiadas e hospedagem
Como os proprietários moram na fazenda, há dois horários de visitação:
A primeira às 11 horas e a segunda às 15h, sempre sendo necessário o agendamento prévio pelo e-mail:  nubia@fazendacachoeiragrande.com.br.

A visita custa R$ 70,00 (tarifa de 2013) por pessoa e inclui um lanche no salão do piano, sem hora marcada para sair.

Através das agências de viagens podem ser marcadas as visitas à Fazenda:
Elcotour
Bomtempo
Rua Panorama, 444, Melo Afonso, Vassouras- RJ, CEP 27700-000. Fone/Fax: (24) 9228-5694 / (24)8138-2665.

Quem desejar poderá combinar com Núbia e Jorge hospedagem por alguns dias.