sábado, 17 de dezembro de 2011

ACIDENTE DA CHEVRON DEVE ENCARECER SEGUROS PARA OPERADORAS

O primeiro tremor foi o acidente da BP, em abril do ano passado, que fez com que o mercado de seguros e resseguros tivesse que arcar com US$ 1 bilhão de despesas, que podem chegar a US$ 3 bilhões dependendo do desenrolar da história. Agora o vazamento da Chevron, no Campo de Frade, pode ser mais um agravante para o aumento dos preços e do rigor na hora em que as operadoras forem renovar seus seguros. O coordenador da área de óleo e gás do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re), Carlos Vinicius Simonini, conversou com o repórter Daniel Fraiha e contou o que acha que deve acontecer no mercado.
O acidente da Chevron em Frade está gerando alguma conseqüência no mercado de seguros e resseguros?
Todo evento tem influência no mercado de seguros, mas neste caso especificamente acredito que teremos uma influência maior na percepção de risco para operações de áreas profundas do que uma grande perda financeira para o mercado. Acho que as mudanças serão, do ponto de vista do segurador, como estamos vendo as operações e os riscos envolvidos na atividade. A maior mudança que deve surgir, no entanto, é a regulamentação da atividade de óleo e gás no Brasil. A regulamentação para operações offshore está há mais de 10 anos sem sofrer mudanças significativas, tanto que as multas aplicáveis são baseadas em leis de 12 anos atrás. Sendo que já evoluímos muito nas atividades e nos riscos envolvidos na exploração até hoje. Acho até que somos um país de bastante sorte, já que tivemos um evento que poderá abrir os nossos olhos para possíveis desastres, sem ter de fato alcançado uma dimensão tão grande.
Novas regulamentações são positivas para o mercado de seguros?
Obviamente quaisquer regulamentações que induzam a utilização de melhores práticas são benéficas sob o ponto de vista do mercado segurador. No fundo sabemos que quando se tem um risco maior de pesar no bolso, as empresas tendem a tentar se enquadrar nas práticas demandadas.
As multas em caso de acidentes estão incluídas nos seguros?
Não. Multas são exclusões tácitas de todas as coberturas ligadas ao segmento. Em termos de seguro, o que pode ser atingido no evento em questão é uma cobertura específica para exploração e produção destinada a eventuais despesas extras do operador, advindo de descontroles de óleo e gás ou fluidos em um poço. Nestes casos o segurador arca com os gastos envolvidos em diversas frentes, desde a mobilização de embarcações, os procedimentos para controle do fluxo, eventualmente a poluição e até a perfuração de um novo poço.
O acidente de Frade deve influenciar no aumento de preços dos seguros para o setor?
Existe uma possibilidade de encarecimento, especialmente em alguns segmentos como despesas extras do operador e responsabilidade civil. O mercado não é somente movido por perdas financeiras, mas também pela percepção de risco. Este é mais um evento que aumenta essa percepção do quão complexas e arriscadas são operações em águas profundas. Isso nos mostra que eventos como o de Macondo, no Golfo do México, estão sujeitos a ocorrer também em território nacional.
Além do preço, o rigor na hora de fazer um seguro deve aumentar?
Todos os seguradores levam em consideração eventos ocorridos e práticas empregadas pelas empresas, além dos tipos de operação. Então sem dúvidas eventos como esse vão influenciar nas análises dos seguradores. E ao mesmo tempo isso pode gerar um aumento da demanda por seguros para suas atividades. Pode haver um efeito de aumentar a aversão a risco e, consequentemente, ao aumento da sua transferência, especialmente através da contratação de seguros.
Você disse que levam em conta as práticas empregadas pelas empresas. A Chevron pode ter que pagar mais caro por novos seguros em função das atitudes que tomou neste caso de Frade?
Dependendo do que for apurado nos eventos, é possível. Ainda existe muita incerteza com o que realmente ocorreu neste caso, de modo que só com o fim das investigações é que teremos as dimensões exatas do que realmente aconteceu.
Como é visto o seguro para a área de óleo e gás no Brasil?
É um dos segmentos mais específicos. No mundo inteiro há um número limitado de seguradores especialistas nessa área. É uma das áreas que melhor representam classicamente o que chamamos de “grandes riscos”, porque envolvem operações extremamente técnicas, altíssimos investimentos e, no caso de ocorrerem eventos inesperados, eles são vultosos. Falamos de operações de dois ou três bilhões de dólares, então essas operações precisam ser pulverizadas nos mercado de resseguros na maior parte do mundo.
É uma das áreas em que mais são procuradas as resseguradoras?
Sim. Por conta desses valores, as empresas buscam as resseguradoras para repassar parte dos riscos. Afinal, são riscos vultosos, com perfil de severidade, de um setor extremamente especializado. São típicos riscos que necessitam do mercado ressegurador.
A Petrobrás anunciou em outubro que talvez não renove as apólices. Como as seguradoras vêem isso?
Não acredito que ela não vá renovar. É uma companhia que sempre se mostrou muito equilibrada e balanceada em relação à transferência de risco. Pode haver uma mudança de estratégia, mas não acredito que vá descambar para nenhum dos dois lados. As empresas de petróleo têm suas próprias políticas de retenção e transferência de risco. A Petrobrás tenta mesclar, retendo uma parcela dos riscos e transferindo outras. Isso depende da aversão de risco de cada companhia. No caso dela, o perfil é o de uma companhia que confia bastante em sua operação e procura reter boa parcela do seu risco. Já a parcela repassada é diversificada. Ela contrata significativos programas tanto na área de exploração e produção quanto na área de refino.
Quanto a área de óleo e gás representa no valor total das apólices do IRB?
Hoje, a área de óleo e gás produz cerca de 10% do volume total de prêmios subscritos pelo IRB. Até setembro deste ano só o mercado de exploração e produção brasileiro movimentou mais de R$ 300 milhões em prêmios. Este total foi movimentado no mercado de seguro, e cerca de 85% é retransmitido para o resseguro facultativo, em que o IRB tem mais de 50% de market share do segmento. Isso já é a maior marca em toda a história dos seguros do setor no Brasil. Em termos de prêmio para o mercado segurador isso é um montante muito significativo. Para você ter uma idéia, a área de exploração emitiu no ano passado inteiro cerca de R$ 150 milhões em prêmios.
Qual foi o impacto gerado no mercado de seguros pelo acidente da BP no Golfo do México, em 2010?
No Golfo do México tinham cerca de US$ 3 bilhões de coberturas contratadas, sendo um terço relativo a danos físicos, como a própria unidade da Transocean, a remoção de destroços e a cobertura de despesas extras do operador, e dois terços em coberturas de responsabilidade civil, indenizações aos envolvidos e quaisquer reclamação de terceiros. Toda operação tem muitas empresas envolvidas que não são só companhias de petróleo que operam no campo. Tinham várias empresas, como a Transocean com a sonda, a Cameron, encarregada do Blow Out Preventer, conjunto de válvulas destinadas a fechar o poço em caso de descontrole, que não funcionou, tinha a Halliburton, responsável pela cimentação do poço, entre outras. As apólices de responsabilidade civil podem ser acionadas, mas os sinistros de responsabilidade civil geralmente são discutidos por anos até que se cheguem às conclusões. No entanto, a cobertura da sonda, da remoção de destroços e das despesas extras do operador, representou cerca de US$ 1 bilhão. Como a maioria dos grandes especialistas em seguros da área participam nos grandes programas, houve uma tendência de aumento de preço no mundo inteiro. O impacto no mercado de seguros só não foi maior porque a BP não contrata seguros no mercado, ela tem uma companhia cativa que assume todos os riscos das suas operações. Mas nos últimos dois anos, além de Macondo, tivemos alguns eventos severos no segmento. Então existe uma tendência geral de endurecimento do ciclo de subscrição, ou seja, quando os seguradores se tornam mais restritivos com os riscos aceitos e mais conservadores na taxação.
Há diferenças nos seguros para exploração no pré-sal?
Sem dúvida. Operações em águas profundas são bem mais complexas e, consequentemente, têm um risco maior e coberturas mais caras. Varia muito de operação para operação. Por exemplo, existem poços em águas profundas que custam até US$ 200 milhões a perfuração. Nestes casos, o custo da cobertura pode chegar a US$ 10 milhões. Depende das N variáveis envolvidas em cada operação. Hoje as resseguradoras analisam as complexidades da operação não se atendo à que camada do solo se está atingindo, mas sim levando em consideração todos os possíveis riscos envolvidos.
Existem casos em que as seguradoras não fazem a cobertura no setor de óleo e gás?
Tudo tem seu preço e sua estrutura. É uma área de perfil de risco de severidade e muito especializada, então pode ser que um determinado programa ou estrutura não seja integralizado no mercado, mas posso dizer que o mercado brasileiro tem conseguido prover soluções para todas as companhias.


(Fonte: site da Petrobras)