Depois dos portugueses que ontem tomaram as principais ruas do Centro de Lisboa (foto acima) num protesto gigantesco - nunca mais visto depois da manifestação do dia 1° de Maio de 1974, logo após o golpe militar que derrubou a ditadura salazarista que dominou Portugal durante 48 anos -, que contou com mais de 200 mil manifestantes, além de outras realizadas no Porto (80 mil pessoas), Coimbra e diversas cidades (20 mil pessoas), hoje, foi a vez dos gregos ganharem as ruas de Atenas (fotos abaixo) pelo mesmo motivo: protestar contra as medidas de austeridade impostas pela troika (formada pela Comissão Europeia (CE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE), mas de forma violenta.
O povo grego irritado com as medidas restritivas impostas pela troika que geraram o maior desemprego jamais visto na Grécia, fizeram disparar os preços dos produtos de consumo básico, impuseram uma redução drástica dos salários e gratificações do funcionalismo público, o aumento da pobreza e cansados de esperar que o governo do primeiro-ministro Lucas Papademos não aceite as imposições da União Europeia, respondeu, hoje, com a mais violenta manifestação desde que os planos de resgate do país começaram, em 2010.
Vários prédios, incluindo construções históricas, cinemas e cafés, estão em chamas na Praça do Parlamento, em Atenas. A polícia tentava dispersar os manifestantes usando bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha, contra a multidão que transformou a região onde se localiza o Parlamento numa praça de guerra, enquanto os parlamentares discutiam no interior de legislativo grego e aprovavam as medidas de austeridade impostas pela troika como único meio para a Grécia receber nova injeção de recursos do FMI, do BCE e da UE.
Entre os prédios incendiados está o cinema neoclássico Attikon, de 1870, um edifício que abriga o Asty, um cinema subterrâneo usado pela Gestapo durante a Segunda Guerra Mundial como centro de tortura.
Gangues de jovens encapuzados usando bombas (foto acima) incendiárias, destruíram fachadas de lojas e realizaram saques. Filiais de grandes bancos estrangeiros e cadeias multinacionais, como a cafeteria americana Starbucks, também foram atacadas.
A refrega deixou dezenas de feridos entre os policiais e manifestantes, que segundo a Imprensa que cobriu o a manifestação foram às dezenas, sem explicitar um número certo.
O parlamento vem debatendo o projeto de lei que determina cortes nos gastos públicos de € 3,3 bilhões, que afetarão ainda mais salários, pensões e provocará ainda mais demissões em troca de um pacote de resgate de € 130 bilhões da UE e do FMI. Os sindicatos e associações de classe que convocaram a manifestação ressaltam que os gregos já tiveram dee suportar a maior parte da carga dos cortes públicos e as altas de impostos decretados previamente para reduzir a enorme dívida do país.
Na noite de sábado, véspera da votação do pacote pelos parlamentares, o primeiro-ministro Lucas Papademos disse que a aprovação das medidas, profundamente impopulares, era crucial para evitar o que descreveu como "um caos econômico", enquanto a Alemanha exigia do governo grego mudanças dramáticas em suas políticas para se manter na zona do euro.
Segundo ele, não apoiar o projeto de lei significaria "uma moratória caótica" e os gregos podem enfrentar um colapso no seu padrão de vida. Especialistas, entretanto, afirmam que esse colapso já vem sendo vivido pelo povo grego, em face das exigências ultra-ortodoxas com pesadas consequências sociais, econômicas e financeiras para a população.
As medidas de austeridade exigem um corte de salários, de pensões e demissões de € 3,3 bilhões (R$ 7,54 bilhões), como contrapartida para a troika liberar um resgate de € 130 bilhões (R$ 296,4 bilhões), o segundo, desde 2010. A Grécia necessita dos fundos antes de 20 de março para cumprir com o pagamento de bônus da dívida de € 14,5 bilhões. O projeto de lei suscitou a ira dos cidadãos nas ruas e turbulências dentro do governo de coalizão.
O Partido Comunista da Grécia acusou Papademos de "mentiroso e alarmista", diante do aumento da pressão do governo alemão que considera que a Europa necessita de ações, e não de palavras: "As promessas da Grécia já não são suficiente para nós", disse o ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, em entrevista hoje ao jornal "Welt am Sonntag".
Para Schaeuble pesquisas de opinião na Alemanha mostram que a maioria dos alemães está disposta a ajudar, "mas é importante frisar que isso não pode ser um poço sem fundo".
— É por isso que os gregos têm que finalmente fechar o poço. Assim poderemos colocar alguma coisa lá. Ao menos, as pessoas estão começando a perceber que não irá funcionar com um poço sem fundo, de acordo com o ministro alemão das Finanças.
Segundo ele, a Grécia precisa fazer o seu próprio dever de casa para se tornar competitiva, ''independentemente que isso aconteça em conjunto com um novo programa de resgate ou por outra rota que nós realmente não queremos tomar".
Quando perguntado sobre se isso significaria que a Grécia poderá deixar a Zona do Euro, Schaeuble acha que "isso depende dos gregos. Mas mesmo no caso da Grécia sair da zona do euro, o que, segundo ele, ninguém acredita que acontecerá, o país continuará sendo parte da Europa".
Quando perguntado sobre se isso significaria que a Grécia poderá deixar a Zona do Euro, Schaeuble acha que "isso depende dos gregos. Mas mesmo no caso da Grécia sair da zona do euro, o que, segundo ele, ninguém acredita que acontecerá, o país continuará sendo parte da Europa".
Tumulto no Parlamento
As exigências da troika incluem cerca de € 300 milhões (R$ 684 milhões) em cortes dos gastos públicos e redução de 22% no salário-mínimo de cerca de € 750 (R$ 1.710,00) ao mês, além da flexibilização de leis que facilitem a demissão de trabalhadores, além de um pacote de impostos e reformas previdenciárias.
O projeto busca reduzir o número de funcionários públicos de 150 mil pessoas, até 2015, em troca de um bônus para aliviar a carga da dívida da Grécia, com a redução do valor real das participações dos credores privados em cerca de 70%.
No sábado, em uma jornada de graves advertências e de um debate tumultuado, líderes da coalizão do governo ordenaram que seus parlamentares apoiassem o projeto ou, do contrário, seriam expulsos das listas dos partidos para uma eleição que poderia acontecer em abril.
O ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, disse que o acordo tinha que ser aprovado neste domingo ou o país não conseguiria cumprir o prazo final, de 17 de fevereiro, para quitar sua dívida com titulares de bônus privados.
No sábado, em uma jornada de graves advertências e de um debate tumultuado, líderes da coalizão do governo ordenaram que seus parlamentares apoiassem o projeto ou, do contrário, seriam expulsos das listas dos partidos para uma eleição que poderia acontecer em abril.
O ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, disse que o acordo tinha que ser aprovado neste domingo ou o país não conseguiria cumprir o prazo final, de 17 de fevereiro, para quitar sua dívida com titulares de bônus privados.